Técnica Alexander para Músicos: Reprogramação Neural
“Entre o estímulo e a resposta há um espaço.
Nesse espaço, está o nosso poder de escolher a nossa resposta.
Na nossa resposta encontra-se o nosso crescimento e a nossa liberdade.”
(atribuido a Viktor Frankl)
Estímulo, Inibição & Direção: Diários de um cientista psicofísico
Durante suas explorações, F.M. Alexander percebeu que o problema do seu mecanismo vocal estava relacionado a algo que ele estava fazendo na hora de recitar. Cedo nas suas investigações, ele entendeu que o problema estava mais precisamente ligado à forma habitual que ele estava condicionado a responder ao estímulo de recitar.
A última etapa das suas investigações foi dedicada a encontrar uma forma de 1) inibir sua reação habitual – associada ao mal uso e funcionamento da sua voz – e 2) responder de forma consciente e favorável ao estimulo de recitar.
As suas duas ferramentas: Inibição e Direção.
Inibição
Inibição = Contrário da Excitação do Sistema Nervoso
Alexander percebeu que sua reação habitual automática não estava apenas associada ao seu mecanismo vocal e mais ainda com a sua coordenação geral – o denominado ‘Uso de Si Mesmo’. Reparou que quando respondemos a estímulos da forma habitual, vários padrões de tensão excessiva ficam ativados, mais especificamente padrões associados ao Controle Primordial – o equilíbrio dinâmico entre cabeça, pescoço e corpo.
Para inibir a reação automática, Alexander passou um bom tempo conduzindo experimentos que envolviam se dar o estímulo de recitar e não reagir de forma nenhuma (inibição). Conscientemente escolhendo dizer “não” à sua reação instintiva, ele reparou a tensão que surge automaticamente quando estamos prestes a reagir no encontro ao estimulo.
Na ausência dessa pausa, o excesso de tensão fica despercebido ou nebuloso. Em outras palavras, Alexander descobriu o espaço entre estímulo e resposta, e começou a entender que é neste espaço que temos escolha em relação a nossa resposta. Ao fazer as coisas de forma acelerada ou quando tentamos resolver problemas de forma imediata, perdemos a consciência deste espaço e acabamos tentando soluções na maioria das vezes ineficientes.
Depois de um tempo dessa exploração – se dar o estímulo de recitar e conscientemente dizer “não” a responder no estímulo – Alexander começou a introduzir o que ele chamou de ‘direção’ no espaço entre estímulo e resposta.
Direção
Direção = processo consciente, empregado para instigar uma mudança na coordenação geral, de forma instantânea.
Na Técnica Alexander utilizamos o Pensamento Construtivo, como uma forma de “direção”, ou melhor de mudança de direção! Quando estamos lidando com um estímulo, a nossa coordenação geral está movendo em uma determinada direção, ou está ficando mais fácil (fluidez) ou está ficando mais difícil (tensão excessiva). A resposta habitual da maioria de nós quando adultos, tende a mover na direção de excesso de tensão, porque o foco está na maioria das vezes no resultado, e não em vivenciar o processo.
Ao focar no resultado, que está sempre no futuro, a nossa coordenação geral sofre, pois o “coordenador” está no futuro e não no presente!
Quando um artista está bem coordenado (como o inesquecível Nat King Cole!) admiramos a fluidez e facilidade com qual chega no resultado desejado. Percebemos que “há algo diferente aqui”, mas não sabemos muito bem como descrever e como fazer igual. De fato, não é para fazer algo, e sim de “não fazer”!
Como referência histórica, deixo aqui as principais direções que Alexander utilizou:
Pescoço livre, Cabeça para cima e para frente, Costas se alongam e se alarguem, Para que ________________ ( o que eu quero fazer) (ex. para que os meus dedos movam para eu tocar o instrumento, para que os meus lábios abram para eu recitar, para que meus joelhos movam para frente para caminhar, etc...)
Ao observar uma criancinha movendo, nós vemos essas direções acontecendo naturalmente. Não é algo a “fazer” – é a nossa herança biológica!
Mais para o fim da vida dele, Alexander decidiu não usar ou ensinar mais as direções dessa forma, pois ele reparou que as pessoas tentavam faze-las de forma direta e não como veiculo para acessar o ‘não fazer’.
No curso CCPM costumamos utilizar o pensamento construtivo na forma de perguntas. Perguntas do tipo ‘onde está o meu apoio?’ ou ‘o quão livre está o meu pescoço?’
Perguntas despertam a nossa curiosidade, perguntas nos dão acesso a nossa sabedoria interior e perguntas não incentivam apego e expectativa. O pensamento construtivo é uma forma de despertar a coordenação geral, tirando o foco do resultado e direcionando a atenção para a qualidade fácil e fluida que está inata em todos nós. É uma forma de re-programar a resposta automática, bem estabelecida no sistema nervoso: uma re-programação neural relacionada a nossa resposta em diversos estímulos, que surgem durante a prática musical.
Tornar a resposta automática em resposta consciente. Sem ilusões que podemos controlar tudo. E sim, equipados com uma ferramenta confiável que nos dá acesso ao nosso potential em viver e em criar musica: o nosso movimento integrado. O desenho humano é feito para funcionar de forma otimizada. Talvez tudo que precisamos é confiar nessa verdade um pouquinho mais. Te desejo ótimas explorações na sua jornada!
“Na ausência do errado, O CERTO SE FAZ”
F.M. Alexander