Técnica Alexander para Músicos: Controle Primordial
“A qualidade do equilíbrio
da cabeça em cima da coluna
determina
a qualidade do tônus muscular
no resto do corpo”
Enquanto F.M. Alexander estava pesquisando como o uso do seu corpo estava relacionado aos problemas vocais na distante Tasmânia, sua ilha nativa, ele começou a entender que o seu problema da voz não era somente físico e sim relacionado a sua reação habitual no estímulo de declamar. E ele escreve no ‘Uso de Si Mesmo’:
“Outro aspecto importante no contexto do controle da reação humana é que, através da minha descoberta do controle primordial, fui capaz de gerar melhora na apreciação sensorial do uso de meus mecanismos, que foi acompanhada por uma melhora no funcionamento de todo o meu organismo. Na época que eu atingi o estágio de consolidação da nova modalidade de uso através do emprego consciente desse controle primordial, tornei-me capaz de, ao receber o estímulo de usar a voz para declamar, inibir a direção errada e instintiva que levava ao uso antigo e nocivo da cabeça, do pescoço e do aparelho fonador, e portanto, à rouquidão, e de substituí-la por uma direção consciente que levava a um novo uso da cabeça, do pescoço e das cordas vocais que não provocava a rouquidão.”
As descobertas do Alexander levaram ele a várias observações em relação ao uso do seu corpo, mente e mecanismo vocal, mas a que considerou a mais importante e posteriormente denominou de ‘controle primordial’ foi que a reação instintiva no estímulo (no caso de declamar) se manifestou na forma de tensão excessiva na relação entre cabeça e coluna.
“Este controle primordial, que o falecido professor Magnus* de Utrecht denominou ‘controle central’, depende de certo uso da cabeça e do pescoço em relação ao resto do corpo e, uma vez que o aluno tenha inibido a má direção instintiva e errada que leva ao seu uso habitual errado, o professor deverá dar início ao processo de formação do novo uso, dando ao aluno as orientações primordiais para a implantação desse controle primordial.”
* Rudolf Magnus, neurofisiologista na Utrecht, Alemanha, estava pesquisando os reflexos posturais de mamíferos durante mais ou menos o mesmo período.
O delicado equilíbrio entre cabeça, pescoço e tronco na prática
A nossa atividade geralmente acontece numa direção para frente do nosso eixo corporal. Nossos braços estendem para frente, nossos olhos olham para frente, nossos joelhos somente dobram para frente e todo tipo de comunicação geralmente acontece para frente. O desejo de alcançar os nossos objetivos facilmente fica mais importante do que o nosso bem estar. A maioria de nós nem foi encorajada de reconhecer e honrar nosso bem estar completo durante nossa criação, especialmente no processo da aprendizagem. Ao aprender um instrumento musical fatores como afinação, técnica, memorização e musicalidade sempre recebem mais atenção do que o bem estar, que envolve um corpo em harmonia com a atividade, um corpo com o tônus muscular apropriado: dinâmico e alerta, porém não contraído mais do que o necessário..
Ao considerar o equilíbrio delicado da cabeça em cima da coluna, é fácil imaginar uma posição onde a cabeça precisa ficar em cima da coluna. Porém não faz sentido que um organismo vivo fosse desenhado pela natureza para ficar em ‘posições corretas’. Ao invés de pensar em uma posição, convido você leitor, a contemplar a tensão muscular como fluxo de energia. E considerar o fluxo de energia do TODO, como um espelho da relação dinâmica e em constante re-equilíbrio entre cabeça, pescoço e corpo.
Uma forma de experimentar com isso é tensionando deliberadamente o seu pescoço apenas um pouco, e logo depois parar de tensionar. Na hora que você parar de tensionar uma liberação natural de energia acontece, um reflexo que percorre o corpo como um TODO. A respiração fica mais livre e todas as estruturas ao redor ficam mais disponíveis, e às vezes essa sensação estende em todo o seu corpo, até os pés. É este tipo de liberação instantânea e sem esforço que estamos pesquisando através do estudo da Técnica Alexander!
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♣ Extra:
Experimento
O experimento consiste em dois simples passos e precisa o auxílio de uma camera. Se grava passando por dois momentos distintos:
Momento 1: Em pé ou sentado com o seu instrumento, em repouso.
Momento 2: Do estado de repouso, passa para produzir apenas um som musical.
Se observa através da sua sensação:
- Que tipo de mudanças você repara no seu corpo? Há alguma diferença no uso do seu corpo/mente na transição entre o momentos de repouso para a ação?
Além das tensões obvias (por exemplo, levantar os braços ou soprar no instrumento de sopro) há mudanças em partes menos obvias, como pescoço, pernas, músculos da face ou outros?
Agora, vai no vídeo e veja se o que você observou pela sensação é o que está observando pelo sentido visual. Tem alguma coisa a mais ou de menos se observando de fora?
Algumas considerações:
- Estes pequenos experimentos são desenhados de forma simples para nós auxiliar a aprender a nos observar. Não há experimento errado e com certeza não existem observações erradas! Se você não está observando algo específico, isso já é uma observação!
- É bastante provável que ao gravar um video de nós mesmos, nós já estamos mudando o nosso jeito habitual de fazer o que está sendo proposto, pelo simples fato de saber que estamos sendo observados! Não se preocupe, deixe o mais simples possível e se for necessário pode se gravar mais do que uma vez.
Bons experimentos!