Violinistas vs. Gravidade: quem ganha essa partida?

Violinistas vs. Gravidade: quem ganha essa partida?

Lutar contra a gravidade e repetir padrões de tensão é a fórmula perfeita para violinistas terem dores nas costas, no pescoço e nos ombros. E isso influencia na liberdade dos movimentos e, consequentemente, em um som menos ressonante.

Certa vez, apresentei alguns princípios da Técnica Alexander para violinistas do corpo docente do Projeto Guri Santa Marcelina, em São Paulo.

Como sempre, comecei dizendo a eles que a Técnica Alexander não é um conjunto de regras que devem ser seguidas. Antes disso: trata-se de uma ferramenta que facilita ao músico fazer tudo o que ele quer fazer, porém, com um pouco mais de liberdade em seus movimentos.

E essa ideia ficou tão clara para todos que o grande destaque do processo não foi o que eles fizeram ou disseram, mas uma descoberta simples e fundamental: naquele jogo, a gravidade estava ganhando de 1 a 0 dos violinistas!

Após um pouco de trabalho com base na Técnica, aplicando algumas ferramentas, o principal feedback dos professores foi que eles se sentiram mais apoiados. A grande notícia, no entanto, ainda estava por vir. Quando eles finalmente pegaram seus violinos para tocar, o feedback de todos estava ligado a uma ideia principal:

Violinistas estão constantemente lutando contra a gravidade.

“E qual é o problema com isso?”, perguntei a todos. Eles, na verdade, estavam ganhando! Só que como ainda não estavam conectando mente e corpo, não sabiam que poderiam usar a gravidade a seu favor. É só analisar: quem perde quando vai contra uma força da natureza? Basta tentar ficar esperando para enfrentar uma onda no mar e então você verá quem perde!

Claro que não é tão dramático assim. Cada um dos professores, experimentando se observar após a descoberta, descreveu como começou a se tornar cada vez mais consciente de uma tendência a empurrar o seu peito para cima, às vezes até mesmo antes de realmente fazer algum som.

Segundo alguns professores, este padrão deu-lhes um senso de confiança e agilidade para dialogar com o instrumento, mas ao mesmo tempo tirou a naturalidade de seus movimentos. Quando gradualmente abandonaram os “movimentos extras” e encontraram uma coordenação mais organica, o som foi significativamente mais ressonante para a escuta de todos os presentes.

Outros, no entanto, observaram que parar de fazer o movimento habitual de levantar seu peito junto com o arco, levou à uma sensação de estar sendo apoiado – nas palavras de um dos participantes, como se estivesse “pendurado”.

E isso é o que acontece quando você deixa de competir com a gravidade e permite que seu sistema seja apoiado por ela. Nascemos absolutamente apoiados. Ao longo do tempo vamos desenvolvendo padrões de tensão excessiva que comprometem esse sistema de apoio. A intenção aqui é justamente lembrar que o apoio sempre está disponível.

O segundo destaque das oficinas foi a persistente pergunta dos violinistas:

“Como faço, então, para conseguir não ficar tenso, mas depois não entrar em colapso?”

O fato de ter chegado até o ponto de reconhecer essa “falta de equilíbrio” significa que já está em processo de encontrar a sua resposta. Para começar a restaurar o seu equilíbrio natural sugiro dar uma olhada nessa série de textos: Como funciona a Técnica Alexander: 7 princípios.

Começando a mergulhar neste processo, eu vejo três passos definitivos:

1) Quando sua consciência corporal aumenta, você começa a perceber padrões de tensão, como levantar ou deprimir o seu peito, inclinar a cabeça ou enrijecer seu ombro na hora de tocar. Esta descoberta é o passo um.

2) Familiarizar-se com este padrão e APRENDER a não apressar-se para mudá-lo e, sim, entender mais como esses padrões funcionam é o passo dois.

3) Entrar em um processo de investigação e experimentação de novos jeitos é o passo três. Neste terceiro passo a ajuda do espelho e/ou do gravador é extremamente importante – serão seus principais aliados e fontes de feedback confiável.

Te desejo a melhor performance!

Abraços e até a próxima postagem 🙂

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