Desde quando eu consigo lembrar, sofri de nervosismo paralisante em frente de qualquer exposição: no palco, no telefone, numa conversa com uma pessoa desconhecida. Através do processo da consciência corporal, criei uma fórmula específica para lidar com situações de alto estresse, que hoje em dia faz parte do curso Consciência Corporal Para Músicos (CCPM).
Superando a ansiedade no palco: a fórmula secreta de sucesso
Para começar o processo é necessário fazer uma distinção fundamental: PENSAMENTO + INTERPRETAÇÃO do pensamento
Na hora da ansiedade surgem pensamentos (insegurança, medo, vergonha, nervosismo, etc.) e sensações que acompanham esses pensamentos (frio na barriga, tensão excessiva, pânico, etc.) Se aprofundarmos na situação isso não é a única coisa que acontece. Com o pensamento, e no jeito imperceptível, também acontece a interpretação do pensamento. Por exemplo, vou apresentar uma peça difícil e o pensamento que me paralisa é insegurança. Junto com a insegurança vem a interpretação do que a insegurança significa pra mim: insegurança NÃO é coisa boa, eu NÃO deveria estar insegura, insegurança NÃO pode acontecer no palco: só algumas das inúmeras interpretações que aparecem ‘grudadas’ no pensamento.
O conjunto ‘pensamento + interpretação’ sempre andam juntos e para aplicar a formula é crucial reconhecer os DOIS processos independentes que acontecem ao mesmo tempo. Eu realmente não consigo controlar o pensamento que vem. Mas tenho escolha e um potencial ilimitado de controle na hora da reação no meu pensamento.
No exemplo da insegurança, vamos supor que essa insegurança é resultado do medo de errar.
O primeiro passo é deixar o medo acontecer! Parece paradoxo, mas se já tentou todas as outras possibilidades porque não tentar essa? Deixando o medo acontecer, nasce uma relação de dialogo, o contrario do que acontece quando tentamos negar ou lutar contra o medo. Então, deixa a ansiedade te penetrar, deixa o seu sistema aceitar e até aproveitâ-la. No fim das contas, você que criou essa ansiedade, isso significa que ela faz parte de você. Permita o seu sistema aceitar essa parte de você.
O segundo passo é questionar a reação automática de interpretar o processo como negativo. Dá pra reconhecer a insegurança como algo que acontece e não necessariamente como algo ruim? Estar inseguro num mundo de caos, na verdade parece bastante são! A insegurança em si não tem nada de negativo, se neste momento eu não estou segura, estou insegura e ponto. Sem projetar o erro no futuro, o medo de errar não existe, ou já feito o erro existe no passado, na época dos dinossauros! Não posso fazer nada para aquilo. Erro NÃO EXISTE no presente, e se eu consigo me manter no presente também não existe medo de errar.
Passo três: praticar presença na hora do estresse. Para me manter no presente na hora da apresentação preciso de aliados que possam me trazer de volta para realidade. Quando o medo vem, eu começo viver na minha mente muito mais do que na realidade externa. O meu aliado é o meu corpo e a minha consciência corporal.
Aliado 1: APOIO
Sabe a sensação de ‘perder o chão’? Ao invés de ficar se assustando sem fim, utiliza a hora do pânico como um alarme para fazer o trabalho mental de te trazer novamente para realidade, para o apoio no seu pé.
Aliado 2: EQUILíBRIO
A sua cabeça está se equilibrando em cima da sua coluna no jeito delicado e constante. Este equilíbrio acontece numa articulação bem especifica que está localizada quase no nível dos seus olhos. Para acessar este fino equilíbrio resta incluir o mundo externo na sua percepção de si. Ao invés de ficar viajando no seus medos e viver um filme de horror, abra os seus olhos e volte à realidade.