Técnica Alexander para Músicos: Reconhecimento de Hábitos

Técnica Alexander para Músicos: Reconhecimento de Hábitos

“As pessoas não decidem seu futuro, elas decidem os seus hábitos

e seus hábitos decidem seu futuro.”

F.M. Alexander

O que mais me encantou na Técnica Alexander foi a sensação que tive no final da minha primeira aula.

Sai da sala me sentindo completamente diferente, como se o meu ‘eu’ interno de repente estava habitando um corpo mais leve, mais alto, mais prazeroso. Nunca me senti deste jeito antes e estava em um estado de choque, tentando entender uma sensação totalmente desconhecida – parecia mágica! 

Eu olhei para a minha professora, utilizando todos os meus poderes de análise ‘sherlockholmeana’, procurando encontrar respostas. Ela me parecia leve, elegante e com um aspecto de uma pessoa que estava sentindo prazer de viver. Reparei os ombros dela, largos e sem traço de tensão excessiva, os olhos serenos, o sorriso calmo e desperto. Na época que tive a minha primeira aula, estava em um período particularmente difícil por estar com dor, peso e fraqueza nos braços, o que me impossibilitava de tocar percussão. 

Eu pensei naquele momento “eu preciso o que essa mulher tem – não sei o que é, mas tudo que eu preciso é isso!”. E foi aquele o meu momento de ‘noivado’ com a Técnica Alexander…

Anos depois, uma frase do Moshé Feldenkrais, grande pensador e educador do século vinte me disponibilizou palavras para descrever aquela primeira experiência de mim mesma e da observação da minha professora:

“Tornar o impossível possível, o possível fácil e o fácil elegante.”

O que aconteceu?

Curiosamente, a principal característica era – e continua sendo – uma sensação de vazio. Na hora, foi impossível racionalizar o que estava acontecendo, estava apenas me sentindo leve, esvaziada de alguma coisa.

Essa coisa era o meu ‘eu habitual’.

Utilizo aqui o termo ‘eu habitual’ como o conjunto de crenças inconscientes e conscientes sobre quem eu sou, visto não de uma perspectiva psicanalítica, e sim, como o fator determinante de como escolhemos habitar o nosso corpo e realizar o nosso movimento, instante por instante.

Obviamente, este é um assunto vasto e o que de fato nos interessa aqui é identificar nossos hábitos durante a prática musical, hábitos que viram obstáculos, que por sua vez começam a fazer parte do nosso ‘eu habitual’, gerando novos hábitos, e assim por diante…

A palavra hábito no contexto da Técnica Alexander não tem a ver com uma atividade ou um movimento em si (ex. hábito de roer as unhas ou fumar), e sim, com a maneira habitual, o como  faço o que eu faço.

Um hábito neste sentido pode incluir os diversos significados, principalmente:

1) Um padrão de tensão muscular desnecessária

Por exemplo, o violinista que tensiona sua mandíbula e faz caretas enquanto toca. No caso, essa é uma tensão a mais e sem necessidade para a eficiência em tocar violino.

2) Uma resposta automática a um estímulo

Por exemplo, habitualmente ficar com a cara séria ao iniciar sua peça – fenômeno observado com maior frequência no mundo da música erudita! No caso, essa seriedade – quando não escolhida, e apenas habitual – é uma tensão desnecessária.

3) Uma crença pré-concebida

Um exemplo comum é a crença que se eu não tensionar o meu corpo, eu não estou ‘sentindo’ a minha música. Outra versão, se eu não inspirar fundo (tensionando) não vou iniciar a música de forma ‘musical’. Esse tipo de crença geralmente está presente e não estamos cientes da sua existência. No caso, só podemos trazer esse tipo de hábito no nível consciente, nos observando de fora no espelho ou num vídeo ou pedindo feedback externo.

Note a relação entre essas três maneiras de identificar um hábito. De fato, tanto um padrão de tensão desnecessária e uma resposta automática a um estímulo são crenças pré-concebidas. Identificar uma tensão no meu corpo pode ser um ponto de acesso em melhor compreender como estou pensando sobre a minha peça musical, sobre a minha técnica do instrumento ou até sobre mim mesma. Neste sentido, quando me deparo com uma tensão habitual quero ‘bemvinda-la’, recebê-la respeitosamente e estar aberta em ouvir tudo o que ela está tentando me dizer.

“Observando uma tensão sem julgá-la, nos dá acesso às informações que ela traz.”

É importante mencionar aqui que um ‘padrão de tensão excessiva’ é diferente de um movimento escolhido. Comece a observar outros músicos e você mesmo, distinguindo padrões de tensão excessiva e movimentos escolhidos. É possível que no início não vai ser muito claro, mas continue observando!

Seguem dois vídeos para você treinar a sua observação:

Primeiro, o vídeo da Callie Day, uma cantora excepcional que se movimenta bastante na hora de cantar e na maior parte dessa música observamos um movimento livre de padrões de tensão excessiva. O segundo vídeo é com Maria Callas, que na maior parte dos registros das suas performances apresenta economia no movimento.

Ambas as cantoras são carismáticas e habilidosas. Os vídeos estão aqui para demonstrar que a liberdade durante a performance não tem uma única forma – é sobre a QUALIDADE com qual as interpretes canalizam sua energia e tensão muscular. Felizmente podemos desfrutar uma performance livre em estilos, situações e personalidades diversas e a liberdade terá um caracter completamente único, trazendo a riqueza da diversidade e contribuição especial de cada interprete, cultura, estilo, momento… Aproveite!

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=TYl8GRJGnBY&feature=emb_logo

 

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