PRÓS E CONTRAS DA RESPIRAÇÃO PELO NARIZ E PELA BOCA
de Patrick Gundry-White
Tradução: Geovaldo Souza
O objetivo deste texto é dar uma compreensão mais aprofundada do ato de respirar pelo nariz. E por que defendo a respiração pelo nariz ao invés da respiração pela boca.
Nós fomos feitos para respirar essencialmente pelo nariz. Em nossas primeiras respirações, quando criança, éramos capazes de respirar pelo nariz e sugar o leite simultaneamente – uma habilidade que perdemos após o período de amamentação.
Quando se respira pela boca, o ar entra seco afetando o muco que reveste a boca e a garganta (experimente respirar com a boca aberta). Este ar seco que entra pela boca não é filtrado e carrega para os pulmões as impurezas do ambiente. Quando se respira pelo nariz o ar é umedecido (se está muito seco), é filtrado (através dos pêlos que temos no interior das narinas bem como pela serpentina que é a via respiratória superior); é desinfectado (o septo nasal é 99% livre de germes), aquecido (se estiver muito frio), refrigerado (se está muito quente) e limita a quantidade de ar que entra (se a entrada de ar está muito rápida). Em suma, respirar pelo nariz leva para dentro dos pulmões o ar num estado de condições atmosféricas apropriado para a correta oxigenação do sangue.
A respiração pelo nariz também regula a quantidade de dióxido de carbono (CO2) retido em nossos pulmões. A percentagem ideal é de 6,5% (alguns asmáticos têm muito pouco, abaixo de 3%). Isso garante um bom nível de saturação de oxigênio para o sangue. Quando respiramos pela boca, ou inspiramos demais, nós expulsamos mais dióxido de carbono do que deveríamos, uma vez que isso faz com que menos oxigênio, e não mais, entre em nossa corrente sanguínea. Respirar pelo nariz é importante também para estimular a respiração, mantendo o equilíbrio ácido-alcalino do sangue e acalmando as células nervosas.
Nós somos constantemente aconselhados a praticar respiração profunda, sob a alegação de que é bom para a saúde além de relaxante, embora a única razão para inspirar grande quantidade de ar seja acionar os músculos para nos mover.
MANTENHA O NARIZ LIMPO
Um outro benefício da respiração pelo nariz ocorre nas cavidades nasais. A membrana mucosa que reveste o interior de tais cavidades é ricamente suprida de sangue. Isto dá resistência para que a membrana sustente os pêlos nasais e, estimulada pela passagem do ar, produza minúsculas quantidades de óxido nítrico. Este óxido é um desinfetante, que ajuda a manter desimpedido (e limpo) os canais nasais bem como o músculo relaxante que atua como bronco-dilatador dos pulmões. Como isso requer muito sangue, só uma narina é utilizada de cada vez (o fornecimento de sangue troca de lado a cada 4 horas). Você pode testar isso por você mesmo observando o movimento de ar saindo de suas narinas. Você observará que uma das narinas tem um fluxo de ar mais forte que a outra.
O ar alcança o mais alto ponto do corpo no topo do osso etmóide, onde nossos receptores olfatórios estão situados, sendo essencial para o sentido do olfato. Aqui o ar também chega mais perto do cérebro (quando temos resfriado quase sempre nos sentimos lentos e com a cabeça pesada). O tecido entre o cérebro e a respiração é uma fina membrana – não admira que práticas de respiração meditativa defendam a respiração pelo nariz.
Para nós, em nossa prática da Técnica Alexander, provavelmente a mais importante peça informativa é que a respiração através da boca é uma prática essencial em momentos de ataque ou fuga e também em momentos de susto.
A RESPIRAÇÃO PELA BOCA E OS REFLEXOS DO MEDO
Eu poderia mesmo afirmar que a respiração pela boca carrega consigo vestígios dos reflexos do medo (luta ou fuga). Para artistas, que usam a respiração para criar emoções e sons, esse mecanismo é importante. Esportistas e atores que respiram pela boca, o fazem por não conseguirem ingerir o ar suficientemente rápido. Mas podemos desenvolver a habilidade de ter as cavidades nasais abertas evocando um pequeno sorriso, o que abre o rosto na região das narinas e facilita a entrada e saída do ar.
Quero deixar claro que não há aqui a intenção de proibir totalmente a respiração pela boca. Mas é que esse modo de respirar é pouco indicado para o cotidiano. Ele interfere, mesmo que de modo inconsciente, no humor e nos níveis de calma ou ansiedade. A grande liberdade do trabalho da Técnica Alexander é escolher como usamos a nós mesmos. E assim como alguém quando desempenha uma habilidade, eu posso escolher se eu quero respirar ou não pelo nariz, e quando.
Texto do workshop “Being nosey”
Revista STAT NEWS, Londres, 2013
Tradução/adaptação: Geovaldo Souza