A repetição na prática musical

A repetição na prática musical

 

Sábado passado tive o prazer de trabalhar com um grupo maravilhoso de músicos no primeiro Workshop CCPM do ano. A maioria estava tendo seu primeiro contato com a abordagem de Consciência Corporal para Músicos, o que fez o nosso tempo juntos mais especial ainda. Uma das participantes, trouxe uma pergunta brilhante na nossa correspondência depois do workshop, e achei interessante compartilhar meus comentários por aqui. 

Pergunta da aluna cantora:

– Após estudar e aprender algo novo, o subconsciente executa automaticamente de forma mais fluida o aprendizado corporal/vocal quando estamos em apresentação, de forma que não necessitamos nos preocupar em ficar lembrando das técnicas e lições no palco, para que fiquemos mais conscientes e calmos na hora da apresentação? Pois percebi que certos estudos exigem repetições até ficarem boas, então essa foi minha maior dúvida.

Minha resposta:

Quando trago na minha mente grandes músicos em performance, há uma clara sensação de que estou me entregando na experiência musical, e acredito que isso tem haver com o fato que o próprio músico que está tocando/cantando, também está se entregando numa experiência nova e única de criação musical. Não parece que o Bobby McFerrin está aplicando técnicas especificas na hora de cantar! Mas isso não significa que ele não explorou diferentes técnicas na hora do estudo e não fez milhares de repetições ao longo da grande trajetória dele. De fato repetição é a forma que nosso sistema nervoso estabelece novas conexões, isso que é o aprendizado. 

Repare dois tipos de repetição bem distintas: em um tipo de estudo eu repito algo esperando que pela repetição vá melhorar, e em um outro tipo de estudo repito porque aquilo faz sentido (clareza), funciona e por isso, quero explorar mais profundamente. Pois, algo que não funciona, não adianta eu ficar repetindo, concorda? O caso é descobrir por que é que não está funcionando! A diferença das duas situações vai estar clara na nossa sensação. A repetição para melhorar ou concentrar tende a ficar facilmente frustrante e dá uma sensação que nunca fica bom! A repetição baseada em clareza e desejo de aprofundar tem um frescor de curiosidade e é bem mais divertida!

Este é um entendimento de dentro para fora, ao invés de fora (repetição) para dentro! Toda a preparação, estudo, habilidade desenvolvida e técnicas desenvolvidas residem dentro de nós e quando nós enxergamos este fato e começamos a confiar que aquilo é nosso, esses recursos ficam disponíveis mais facilmente e com menos esforço. O estudo na base desse entendimento vira um laboratório para explorar as possibilidades técnicas do instrumento e a criatividade musical – e não mais uma sessão de punição! 

 

Algumas ideias que podem te apoiar durante o seu estudo musical neste novo entendimento:

– Repita algo porque você GOSTA de praticar aquilo.

Muitas vezes ficamos repetindo um trecho para que fique melhor. Tem várias razões porque algo não está saindo do jeito que gostaria. Muitas vezes é uma questão de clareza sobre o que precisa ser feito. A partir do momento que você tem clareza (das habilidades técnicas, de interpretação, das condições presentes na apresentação, etc..) a repetição acontece de forma agradável e fluida.

– Observe fatos, ao invés de se envolver em julgamentos.

Quando surge um erro ou algo diferente do que minha intenção na hora da prática, é fácil se frustrar e tentar consertar aquilo com repetição. Nessa frustração há um julgamento. Quando a gente fica se julgando, não estamos florescendo. Ao invés de ficar naquele dialogo interno não produtivo, posso voltar na percepção do meu corpo (centro) e ficar curiosa sobre o que este ‘erro’ está me contando. O ‘erro’ não é o inimigo, e sim um mestre, que está gentilmente me apontando à direção onde preciso trabalhar. Por exemplo, aos lugares onde posso não ter clareza ou onde ainda não tenho a habilidade necessária para tocar aquilo, ou onde me distraio e ainda não sei lidar bem com esse tipo especifico de distração da minha concentração.

– Se você reparar que está se envolvendo em auto-julgamentos, não julgue o julgamento!

Somos humanos e nós nos distraímos com os próprios pensamentos – é o que os humanos fazem! Muitas vezes achamos que ouvindo o julgamento interno vai nos ajudar melhorar, mas na verdade acabamos apanhando mais do próprio julgamento do que florescendo. Utilize seu corpo como forma de conectar com você mesma no momento presente, e não somente com os pensamentos transitórios. Se perceber que está se julgando – não julgue o julgamento, se dá um sorriso amigável e mergulhe de volta na sua vida!

– Divirta-se! 

Se você reparar que sem querer o seu estudo ficou pesado e difícil, PARE! Levante, faça algo que te agrada, mesmo se for por 1 minuto! (não mídias sociais que magnetizam a gente, se possível!) Daí volte com a cabeça mais clara, pois é deste lugar que aprendemos melhor e crescemos. Você não está estudando somente as notas momento por momento, e sim, o estado mental, corporal e emocional associado às notas. 

 

Te deixo com uma improvisação do maravilhoso Bobby McFerrin!

 

 


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